Considera-se Gryffindor desde os nove anos, altura em que as páginas dos livros de J. K. Rowling faziam a sua magia e a embalavam em direção ao mundo das letras. Essa coragem fez-se notar em cada passo de Patrícia Morais, que com o tempo trocou a magia dos feiticeiros pela da escrita.
O remoinho da sua imaginação deixaria qualquer um tonto, mas a autora descobriu na escrita uma forma de canalizar os seus poderes. Um misto de euforia e serenidade é o que recebe em troca por cada palavra deixada no papel. Desde tenra idade que a jovem se deixou encantar por esta arte. No entanto, a cada ano que passava o sonho tornava-se cada vez mais alto e o trajeto até ele cada vez mais longínquo. “Eu pensava que isto ia ser daquelas coisas que ia ser um sonho que nunca iria acontecer”, admite, mas é com felicidade que observa que estava enganada. Hoje, aos vinte e nove anos, Patrícia já tem três livros publicados sem nunca ter abandonado a sua essência.
“Pensava que isto ia ser daquelas coisas que ia ser um sonho que nunca iria acontecer”
O que ao início começou por ser uma busca por um sentido de realização, acabou por se transformar em algo maior. “A minha motivação são os leitores” afirma com confiança, referindo aqueles que antecipam a continuação da sua trilogia. A escritora lançou, em 2014, o primeiro livro desta coleção, intitulado Sombras, uma história sobrenatural e envolvente que já conta com a sequela Chamas. A jovem recorda a sua reação ao ver o seu trabalho publicado: “Foi memorável! Saber que alguém acreditou no meu livro e que agora podia partilhar a minha escrita”, diz com um sorriso alargado.
Para além de artística, Patrícia tem igualmente uma veia de exploradora. Já viveu um pouco por toda a parte até se ter instalado na Bélgica, e já viajou por mais de 47 países. Não é de estranhar que todas estas experiências tenham influenciado as palavras da autora que, apesar disso, descreve o cenário onde se sente mais inspirada como sendo uma simples caminhada com música. “Eu tiro muita inspiração de livros, filmes… estou sempre a analisar os enredos e a pensar o que faria de diferente”, adiciona a criativa, que considera ter uma imaginação em constante movimento.
Essa imaginação acorda cedo, e é no início da manhã que Patrícia consegue inserir a escrita na sua rotina, enquanto assessora de comunicação. Nas entrelinhas vai tirando notas e fazendo outlines, mas confirma que equilibrar a sua vida profissional com a escrita é desafiante. Atualmente, o projeto que tem em mãos é a composição do livro final da sua trilogia, que promete fugir do que é habitual no género fantástico, roçando um pouco, até, a ficção científica.
O que sempre atraiu a jovem para a fantasia enquanto género literário foi a possibilidade de experienciar o impossível, de fazer uma viagem a um mundo mágico sem nunca tirar os pés do chão. No entanto, a autora reconhece que, infelizmente, este é um género que ainda é olhado com um certo preconceito em Portugal. Excetuando os jovens, Patrícia considera que Portugal “ainda não tem um mercado muito grande”, e que são muitos os que consideram que “a literatura fantástica não é literatura verdadeira”. Este pode ser um panorama sombrio para alguém que pretende vingar no mercado português, mas a magia deste género literário fala mais alto para a jovem de Loures.
“Olham para o fantástico com um certo preconceito”
Embora este cenário seja uma pedra no seu sapato, não foi o maior obstáculo que Patrícia teve de enfrentar até ao momento. Considerada uma das maiores doenças do século XXI, a depressão atingiu a autora como se de um perverso feitiço se tratasse. Sobre este período na sua vida, apenas diz: “criou um grande obstáculo para a minha escrita”.
Outro dos bloqueios de Patrícia passou pelo seu frágil conhecimento acerca do mercado português: “tem-se aquela vontade de desistir porque se está a nadar num mar sem boia, e não sabemos onde fica a praia”. Foi em busca de ajuda para melhor entender o marketing dos livros que a autora se cruzou com a Agência das Letras, e com o nosso programa de mentoria. O trabalho com o nosso publisher João Gonçalves deu frutos, e não só ofereceu a Patrícia a oportunidade de conhecer o funcionamento do mercado, como também lhe deu as ferramentas para que este a favorecesse. “Perdi um bocado daquela frustração. Também eu tinha o preconceito de que ninguém lia em Portugal”, admite, adicionando que, apesar de existirem problemas no mercado, não deixa de ter a consciência de que poderia estar a trabalhar melhor a sua comunicação. Hoje, com um maior foco na mensagem que está a transmitir, Patrícia pensa frequentemente: “é mesmo esta a imagem que eu quero que o mundo veja?”.
Com vista a partilhar os seus novos conhecimentos e a sua experiência enquanto escritora de fantasia, a autora criou uma comunidade literária, a Sociedade de Escritores Portugueses, onde a troca de perspetivas e metodologias é incentivada. A autores estreantes, a escritora de Sombras diria para viverem a vida ao máximo. “Um escritor é a soma das suas experiências”, afirma convictamente, rematando que, de modo a transmitir emoções aos leitores, é necessário passar por elas.
“Um escritor é a soma das suas experiências.”
Por mais obstáculos que a vida trace no seu caminho, Patrícia mune-se dos feitiços que o mundo fantástico lhe revela para lutar por uma literatura cada vez mais abrangente. A coragem dos Gryffindor, aliada ao desejo de unir os escritores de língua portuguesa vai, sem dúvida, assegurar que o nome de Patrícia Morais seja conhecido por todos os cantos, até mesmo aqueles por onde já viajou. Um percurso que será, certamente, mágico.