Dois dedos de conversa com o autor que vai ter o prazer de descobrir em breve.
Nunca sonhou ser escritor, no entanto, em 2021 lança um thriller ambiental que não deixará ninguém indiferente.
Acabado de entrar na década dos trinta, Bruno Franco confessa que a criança que foi nunca reconheceria o adulto em que se tornou. Se tivesse oportunidade de aconselhar esse jovem, o autor dir-lhe-ia para começar a ler mais cedo. Na verdade, a leitura era algo que não agradava a Bruno, que relembra de forma animada como se “baldara” quando desafiado por uma professora a apresentar um livro em aula. Claramente, muito mudou desde então.
O grande segredo para nos deixarmos submergir pelo mundo literário é, segundo ele, encontrar o livro certo. O livro que transforma a leitura num ato de exploração e admiração. O escritor descobriu o livro certo aos 13 anos – Os Escolhidos, de Ricardo Pinto – um livro de fantasia que espoletou o seu gosto pela leitura, género que liderou a sua curiosidade até descobrir os policiais.
Uma coisa leva a outra e, no caso de Bruno, a leitura levou à escrita. O jovem, nadador de competição, mergulhava na piscina tanto quanto na sua imaginação inundada com ideias. As suas composições eram já publicadas na revista da escola, mas foi ao deparar-se com um desafio para novos autores no final de Eragon, o primeiro livro de uma popular série de Christopher Paolini, que o residente de Almada decidiu levar a escrita mais a sério. Infelizmente, não foi somente esta leitura que o impulsionou a afundar-se no mundo da escrita. Aos 14 anos, Bruno perdeu a mãe, um momento que definiu o autor profundamente. Aos 14 anos, Bruno encontrou na escrita um refúgio, uma forma de se abstrair da sua realidade e encará-la de forma mais positiva. Foi a partir destas circunstâncias que o autor começou a crer que “ler (e escrever) é viver outras vidas” e credita a escrita, a leitura e a natação como tendo sido “os três pilares que me ajudaram a ultrapassar a morte da minha mãe”.
"Ler (e escrever) é viver outras vidas"
Apesar da escrita o ter acompanhado desde então, Bruno não apostou todas as fichas numa carreira como escritor. Atualmente radioterapeuta no IPO de Lisboa, os horários incertos obrigam-no a organizar o seu dia de forma a que não falte pelo menos uma hora dedicada à sua paixão. As manhãs começam cedo e depois de uma ida ao ginásio e de passear o seu cão Joey, o seu foco passa para as letras. Lê ou escreve dependendo da fase em que se encontra no seu processo de escrita, mas confessa que gostaria de ter mais tempo com as suas histórias, apesar de considerar que, aos poucos, a perseverança dá frutos.
Sempre um passo à frente, o autor mantém no seu caderno os pontos que pretende abordar em cada etapa e tem por hábito ler um pouco do capítulo anterior, refletir e só depois prosseguir. Algo que tenta fazer e que já comprovou facilitar o seu processo é terminar o seu período de escrita diário no começo de um capítulo, algo que o ajuda a combater a temerosa página em branco porque, nas suas próprias palavras: “o que custa é começar”.
O que não custou a começar foi a sua relação com a Agência das Letras. Durante um período em que se sentia mais desmoralizado em relação ao seu lugar no mundo literário, Bruno procurava alguém que o ajudasse a chegar mais longe. Foi em conversa com um amigo escritor, Samuel Pimenta, que surgiu a primeira menção a esta “nova agência literária”, que havia começado a sua atividade pouco antes. Sempre decidido, estabeleceu imediatamente contacto e expôs as suas ambições e receios. Tinha em mãos um livro que almejava publicar e ver à venda e relembra, naquele momento, ver a agência “como uma luz ao fundo do túnel”, com ela o futuro não parecia tão solitário.
Em reunião com João Gonçalves, o nosso publisher, decidiram avançar com um Relatório de Leitura Crítica ao manuscrito em questão, de modo a que pudesse ser analisado por um escritor profissional, com vista a aprimorar aspetos em bruto. Com uma gargalhada, o radioterapeuta conta que foi a sua esposa, Sara, a ler pela primeira vez a crítica feita ao seu original, tal era a ansiedade perante o que esta continha. Uma ansiedade que, no final de contas, acabou por se revelar desmedida, já que a apreciação havia sido uma das mais positivas até então. Seguiram-se quatro sessões de mentoria editorial, nas quais Bruno teve a oportunidade de compreender melhor o funcionamento da agência, os processos de edição, tipos de estratégia de promoção do livro e do próprio autor, algo que o escritor considerou “espetacular, foi muito útil e aprendi imenso”.
A cereja no topo do bolo, a publicação da sua nova obra, terá um sabor mais doce em 2021, quando puder ser experienciada por todos os leitores. Com um título ainda por revelar, o autor tenta não desvendar todos os mistérios deste intenso policial explicando, no entanto, que esta história já o acompanha há nove anos. Um documentário do History Channel espoletou um processo criativo que não abandonou o jovem até este refugiar a sua curiosidade através de palavras no papel. “Como é que ninguém falou sobre isto?” recorda pensar, com o entusiasmo refletido na voz. Curiosamente, foi também há nove anos que surgiu uma das personagens, Carlos, a partir de um guião que o autor escreveu para um concurso online, guião esse que o levou até à final.
Depois de nove anos de ebulição, estas ideias levaram a um policial repleto de ação, suspense, situações de risco e intrigas envolventes que se interligam num culminar estrondoso que deixará o leitor perplexo. A aura cativante deste policial não foge de tópicos bastante reais, sendo um dos mais importantes o clima, abordado neste livro de uma forma nunca antes vista.
Este novo projeto deixa um sorriso aberto na cara do escritor, que muito lutou para ver este momento chegar. “Este livro tem potencial para chegar longe” diz serenamente, com o olhar focado, rematando que o seu maior objetivo é chegar até ao maior número de leitores possível, já que é neles que pensa enquanto escreve: o que sentirão ao ler determinado excerto, se estarão a acompanhar as subtis pistas que deixa ao longo da narrativa.
Não sonhou ser escritor, mas sonha agora tornar este primeiro livro numa coleção, reeditar os livros que escreveu e que deseja que evoluam tal como o próprio criador, que afirma com orgulho: “já aprendi muito ao longo destes 10 anos”. Aos verdes escritores como fora outrora, Bruno deixa os conselhos que gostaria de ter recebido: ler muito, escrever sobre o que se gostaria de ler e nunca perder a esperança. A determinação não abandonou Bruno quando aos 14 anos descobriu uma estrada que nunca tinha pensado percorrer, mas que mesmo com surpresa não deixou de caminhar. Em 2021 chega a um primeiro destino, mas a viagem não acaba aqui.